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A vitória de Jair Bolsonaro para a presidência da República foi obtida por meio do voto popular, portanto, de forma democrática. Porém, a cada dia, cresce o número de eleitores bolsonaristas descrentes e até apavorados com o modo que o governante se comporta no mais alto posto do país. E isso não é à toa. Alguns entendidos dizem que é uma estratégia adotada por Bolsonaro para seguir em frente. Outros, com os quais comungo, falam em avanço do obscurantismo intelectual a cada manifestação imprópria do presidente.
Nos dicionários da Língua Portuguesa, obscurantismo é o "estado de quem se encontra na escuridão, de quem está privado de luz, falta de instrução, ignorância". A palavra vem do latim obscurans, que significa escurecimento. Desde que o novo governo assumiu, é comum ouvirmos falar em terraplanismo, negar as mudanças climáticas e valorizar o movimento antivacina.
É um período no qual, lamentavelmente, a educação e a ciência são tratadas como artigos de quinta categoria. A cultura e a arte também viraram inimigas de Bolsonaro e seus asseclas.
Em seu blog na Revista Fórum, Mouzar Benedito escreveu que "temos no poder gente que gosta de sua ignorância, e considera que gente "normal" tem que ser igual a elas. O diferente merece a morte, na tortura ou na fogueira." Mouzar acrescentou: "O certo é que temos no poder, e sendo aplaudidas e apoiadas por muito mais gente do que seria pensável, pessoas não apenas obscuras, mas que louvam o obscurantismo. Odeiam a cultura, a educação, a ciência, a inteligência, a cordialidade, a arte? E fazem questão de mostrar isso, cotidianamente."
Louvar o obscurantismo é de uma brutal estupidez e ver isso no Brasil, em pleno século 21, é assustador. O problema não está em ser ignorante por falta de instrução ou obscuro por ausência de educação. O mais grave é ver pessoas com estudo agirem na proliferação do obscurantismo. Uma quantidade de mentiras são propagadas, principalmente pelas redes sociais, e viram verdades em um curto espaço de tempo.
A rispidez, a inurbanidade, a indelicadeza, a incivilidade, a rudeza, a brutalidade, a boçalidade, a descortesia, a grosseria, a impolidez, etc, não contribuem em nada com o desenvolvimento de qualquer nação. O obscurantismo intelectual vigente no Brasil, e alimentado pelo governo Bolsonaro, precisa urgentemente ser combatido. A busca e a valorização do conhecimento científico não podem ser vencidas por tuítes irracionais e sem qualquer nexo.
Aquelas pessoas - e aqui incluo gente de todas as classes sociais - que criticam o investimento em educação, ciência, cultura e arte prestam um enorme desserviço ao Brasil e ao seu povo. Atuam para deixar a sociedade na escuridão do progresso e à mercê da escravidão social e econômica. Já imaginaram Santa Maria sem a UFSM, a UFN, a Fisma, a Fames, a Ulbra, a Fapas, a Fadisma e outras instituições de ensino superior? Já mensuraram o valor do ensino, pesquisa, extensão e inovação no processo educacional de uma cidade, um Estado e um país? Vocês, cidadão e cidadã, estão dispostos a abrir mão disso? Creio que vale refletir sobre esses questionamentos.
O escritor uruguaio Eduardo Galeano dizia que "o medo nos governa. Esta é uma das ferramentas de que se valem os poderosos, a outra é a ignorância". Depois, não adianta fazer arminha com os dedos, dizer que foi enganado e que a culpa é dos partidos de esquerda e da turma comunista. Já vai ser tarde.